Lufada de ar fresco

Dificilmente seria expectável, mesmo para os mais ferverosos e entusiastas democratas norte-americanos apoiantes de Obama,  que este senador afro-descendente almejasse constituir uma alternativa sólida, credível e real, relativamente à mais que anunciada candidata Hillary Clinton , isto óbviamente antes de todo este processo que caracteriza as eleições primárias norte-americanas ter sequer dado os primeiros passos.

Efectivamente, com um discurso bem estruturado, coerente, e que fundamentalmente visa unir os americanos em torno da verdadeira “mudança”, pelo menos e para já, numa mudança de mentalidades e preconceitos, Obama consegue tocar no coração dos seus ouvintes… e não se pense que é apenas um discurso para os “seus” correlegionários com a mesma tonalidade cromática dos pigmentos de pele, antes pelo contrário, Obama consegue dar alguma luz ao americano mais cinzento do ponto de vista social, sendo que os excelentes resultados obtidos em Estados tendencialmente conservadores constituem a diabolica probatio bastante daquilo que tem vindo a ser dito.

Independentemente daquilo que possa ocorrer doravante, com este acto eleitoral verdadeiramente imprevisível e extraordinário a democracia norte-americana sai claramente favorecida sendo Obama o principal contribuinte deste engrandecimento democrático, e com isto o Mundo poderá sorrir sem falsa timidez.

A ascensão de Obama é uma oportunidade também para o Mundo, porque representará sem dúvida, a expectativa de uma mudança efectiva na política externa dos EUA que, depois destes 8 anos de má memória onde o clima de neo-imperialismo expansionista e de segregação despótica assumiu contornos inegavelmente sumptuosos, precisa de uma clara e inequívoca lavagem de rosto, sob pena da perpetuação de constantes cenários apocalípticos corporizados pela materialização de autênticas bombas-relógio. Obama empenhar-se-á, não tenho dúvidas, se assim entender o soberano povo norte-americano, numa verdadeira política externa de oportunidade para a paz mundial, nomeadamente no crucial papel que os EUA terão que desempenhar ne mediação do eterno conflito israelo-palestiniano, e na remediação da, “mais-que-provada” maquiavélica invasão do Iraque, invasão esta que foi tomada ao arrepio dos princípios fundamentais de Direito Internacional, e que funcionou como pólo detonador destrutivo do edifício da construção de um verdadeiro ordenamento internacional público, já de si extremamente exíguo e debilitado por sucessivas manifestações de soberania cerceadora.

Sempre que vejo Obama na televisão lembro-me do sonho utópico mas realizável de Martin Luther King, lembro-me da preserverança e sagacidade de Nelson Mandela, lembro-me da capacidade de resistência de Gandhi, lembro-me das valorosas e por vezes esquecidas palavras do poeta: “o sonho comanda a vida…” lembro-me que o verdadeiro espírito democrático é este mesmo, subtermo-nos de coração limpo e aberto ao soberano sufrágio do povo, sem reservas, nem receios, pois quem fala a verdade, com princípios, valores e coragem de lutar contra a lógica seguidista e aparelhista dos resultados pré-feitos só merece um inequívoco voto de confiança de todos nós.

Para quem como eu tem uma visão romântica, não necessariamente  ingénua, relativamente às virtudes e nobreza da actividade política e àquilo que de bom ela pode fazer repercutir no quotidiano de todos nós, o aparecimento e combatividade de Obama nestas primárias norte-americanas representa mais do que um mero lampejo de alternativa, representa verdadeiramente um oásis no deserto, uma lufada de ar fresco no situacionismo da alternância sem substância…

Esperemos que um dia emerjam em Arruda muitos Obamas com a coragem e determinação de mudar o status quo (r)existente,  para que de uma vez por todas o povo passe a ser o verdadeiro destinatário das políticas e não nos dêm meramente a ilusão democrática, para que de facto se cumpra Abril… estou certo que esse dia chegará!!! 

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